Não vai haver amanhã!
Nem sorrisos, nem palavras.
Alguém chegou e cortou a corrente
fechou portas, trancou janelas
e o tempo lá fora morreu de frio.
Organizaram-se comissões
pediram-se esclarecimentos
recolheram-se assinaturas
mas janelas e portas recusaram
um derradeiro ultimato para reabertura.
Deito-me e penso em ti
agora que já não existimos
(a alma do homem é feita de tempo).
O cérebro nega-se a aceitar o facto
de não ter mais noites
para acariciar os teus olhos no escuro
de já não poder respirar
a tranquilidade dos teus cabelos.
Não vai haver amanhã!
Penso mesmo que é necessário
voltar-me de lado e enlouquecer
(os loucos não usam relógio)
escrever um poema de baixo para cima
regular a abertura do abismo celeste
arrancar o coração, lavá-lo
e recomeçar a descida inapelável.
JReis (1995)
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