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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

AS PALAVRAS




As palavras povoam as horas

os pensamentos mastigam o cansaço

e o amor esconde-se

                                   num abraço.


As palavras enaltecem a pureza

de um coração retesado em arco

como a pedra atirada

                                   num charco.


As palavras vêm de atropelo

zurzir o nosso encolhimento

como rosto mordido

                                   pelo vento.


As palavras ferem, agitam, sibilam

como sirenes a conspirar no escuro.

Com palavras se projectam os homens

                                   Num muro.


As palavra extremaram a história

multiplicaram-se como pedras pelo chão

mas há lá maior força

                                   do que dizer NÃO!


JReis (2002)

terça-feira, 20 de maio de 2014

"Início"...


 
Início

Desta página em diante

Vou amar-te poesia.

E o meu amor será

Esperança de vinho em mosto

Lágrima de suor…

                                    Sem rosto.
 
                                                       
                                                                 João Reis

domingo, 27 de abril de 2014

Hoje, morreu o poeta e escritor Vasco Graça Moura


O poeta e escritor,  Vasco Graça Moura, de 72 anos, dirigia o  Centro Cultural de Belém, desde janeiro de 2012.









soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.


                                                    Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"









sexta-feira, 25 de abril de 2014

BIBLIOTECA ESCOLAR

   

Quero escrever um poema
Como quem escreve o momento
Cheiro de terra molhada
Abril com chuva por dentro (…)

                                           
                                                             Manuel Alegre

                            


para além dos olhos…

sábado, 29 de março de 2014

"(...) o leitor de poesia tem, em geral, os olhos mais brilhantes."


Aberto ou cerrado,
o poema exige a abolição do poeta que o escreve
e  o nascimento do poeta que o lê.
                                                                                                                                 Octavio Paz




'Le temps des poètes'. Giclée Art Print by Sandrine Pagnoux


  Notícias sobre a Poesia:

Em Portugal são publicados em média 

400 livros por ano




Raquel Ramalho Lopes/ Manuel dos Santos/ Rui Silva/ Luís Moreira21 Mar, 2014, 10:37 / atualizado em 21 Mar, 2014, 11:45

quinta-feira, 27 de março de 2014

CIÊNCIA E POESIA


                      
                      
                           E de repente fez-se luz!
                       O universo resplandeceu,

                       E toda a energia se manifestou

                       Entre a amálgama de coisas,

                       Criadas instantaneamente.

                       Fez-se luz e tudo acordou,

                       Reverberando assimptoticamente,

                       Até tudo se começar a parecer com tudo.

                       Então toda a criação rejubilou em cascatas de eventos,

                       Lentamente forjando a realidade pelos espaços.

                       Quando surgiu o negro já tudo estava fadado…
                                                                                                                        Hélio Pinto

POESIA E CIÊNCIA


        
       
       
       O passado o presente e o futuro

                        São entidades abstractas que nada significam

                        O tempo apenas existe enquanto o espaço existe

                        Antes do espaço o nada

                        O eterno nada que compõe todo o Universo

                        Tornando a sua existência completa
                                                     
                                                                                 Hélio Pinto

quarta-feira, 26 de março de 2014


imácula densa
    quando os deuses forem cegos

        não poderão ver-me assim
        extraviado em mim
        vaiado sem aconchegos
        extravasado ruim
        na incontinência dos egos
        quando todos formos cegos
        seremos deuses enfim



                                                                                     Jerónimo Nogueira

Na Memória Moram os Muitos Mais de Mim

terça-feira, 25 de março de 2014

RETÉM...






Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Ricardo Reis, 14-2-1933





Deixe-se contagiar pelas "palavras dançantes" de Jerónimo Nogueira


ANDANÇAS



"dançar é andar contente por ente gente"

                                                                   Jerónimo Nogueira



                             perene


perene na dança
teu corpo balança
táctil musical
sigo-te felino
trilhando teu tino
no sino areal…

 metamorfose


fizeste-me feiticeiro
surgida de sem saber
segredas o teu luzeiro
acenas sem ninguém ver
e no terreiro das danças
brincamos como crianças
felizes de assim ser…

  
bailação

a bailar tu se me dê
tu se me dê encantada
e no talento se crê
para lá do que se vê
outra vida ser dançada…






sábado, 22 de março de 2014

MÁRIO DE SÁ CARNEIRO

 O João Reis enviou esta relíquia...








Apoteose

Mastros quebrados, singro num mar d'Ouro
Dormindo fôgo, incerto, longemente...
Tudo se me igualou num sonho rente,
E em metade de mim hoje só móro...

São tristezas de bronze as que inda choro -
Pilastras mortas, marmores ao Poente...
Lagearam-se-me as ânsias brancamente
Por claustros falsos onde nunca óro...

Desci de mim. Dobrei o manto d'Astro,
Quebrei a taça de cristal e espanto,
Talhei em sombra o Oiro do meu rastro...

Findei... Horas-platina... Olor-brocado...
Luar-ânsia... Luz-perdão... Orquideas pranto...

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

- Ó pantanos de Mim - jardim estagnado...

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'





http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/sacarneiro.htm




Resistência ao vivo - Fim

sexta-feira, 21 de março de 2014

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN...


Como ela própria afirmou:

"(...) Eu posso dizer que escrevo para transformar o mundo. Eu penso que a poesia deve transformar o mundo!"


             
1919-2004  


     
Este é o tempo 

Este é o tempo...
Da selva mais obscura 
Até o ar se tornou grades 
E a luz do sol se tornou impura 
Esta é a noite 
Densa de chacais 
Pesada de amargura 
Este é o tempo em que os homens renunciam.

in Mar Novo, (1972)



INSCRIÇÃO

Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar

                       
                   Sophia de Mello Breyner Andresen

Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia I

As pessoas sensíveis não são capazes

De matar galinhas

Porém são capazes

De comer galinhas



O dinheiro cheira a pobre e cheira

À roupa do seu corpo

Aquela roupa

Que depois da chuva secou sobre o corpo

Porque não tinham outra

O dinheiro cheira a pobre e cheira

A roupa

Que depois do suor não foi lavada

Porque não tinham outra



«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»

Assim nos foi imposto

E não:

«Com o suor dos outros ganharás o pão»



Ó vendilhões do templo

Ó construtores

Das grandes estátuas balofas e pesadas

Ó cheios de devoção e de proveito



Perdoai-lhes Senhor

Porque eles sabem o que fazem


LUÍS DE CAMÕES






http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/camoes.htm




- Amor é Fogo que Arde sem se Ver - Luís de Camões





Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões








JOSÉ RÉGIO



http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/04/01.html


Cântico Negro - José Régio


Cântico Negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

             José Régio

http://cvc.instituto-camoes.pt/poemasemana/04/01.html

EUGÉNIO DE ANDRADE




 O Sorriso - Eugénio de Andrade


O Sorriso

Creio que foi o sorriso,

o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso. 



Eugénio de Andrade


 Adeus - Eugénio de Andrade

 Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,

e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.


Adeus.
                                             Eugénio de Andrade







DIA MUNDIAL DA POESIA


Viva a Poesia...


«É na nossa poesia que se encontra isso que os políticos tão afanosamente buscam: a nossa identidade»                  
 
Eugénio de Andrade



 

quinta-feira, 20 de março de 2014

FLORBELA ESPANCA

A melhor definição de poeta...



Ser Poeta - Florbela Espanca

GRUPO

Ser Poeta



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!



É ter de mil desejos o esplendos

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!



É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…

É condensar o mundo num só grito!



E é amar-te, assim, perdidamente…

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!





(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)