quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Auschwitz, leia, pelo menos, uma vez na vida...

27 de Janeiro de 1945. O exército soviético abria as portas de Auschwitz, o maior, o mais completo, o mais perfeito dos campos de extermínio. 70 anos depois, ainda não nos compreendemos sem Auschwitz.


Omissão de outros países impediu que muitos judeus fossem salvos dos nazistas (Reprodução)


A torre de Birkenau fica mais ou menos a meio do longo edifício de tijolo vermelho. Mesmo em cima do arco por onde entravam os comboios. Lá do alto o nosso olhar pode pousar sobre o imenso campo que um dia foi de extermínio. Pode perder-se na sua imensidão.
À direita, meia dúzia de barracões de madeira escura são conservados como testemunho do tempo em que ali se acumulavam os prisioneiros. À nossa frente, a linha do comboio e as plataformas onde os SS dividiam os que chegavam entre os que iam diretamente para as câmaras de gás e aqueles que ainda serviam para trabalho escravo. Lá ao fundo, antes da fita verde do bosque de bétulas, estão os restos dos fornos crematórios e das câmaras de gás, feitos explodir pouco tempo antes de os soldados soviéticos chegarem, numa tentativa inglória de esconder o que aqui se tinha passado.
De resto, a toda a volta, a planície parece vazia. Do complexo de morte que aqui existia sobram pouco mais do que as ruínas das chaminés que existiam em cada uma das barracas. O olhar esvai-se na distância sem que consigamos perceber onde estão os limites do campo.

A máquina de matar: 20 mil por dia 

Há espaços que não cabem dentro de uma fotografia ou de um filme, e este campo de Auschwitz II, o campo de Birkenau, é um espaço desses. Em parte pela sua imensidão: só este campo, o que estava dedicado ao extermínio, ocupa uma área que, se pousada sobre a cidade de Lisboa, ocuparia toda a zona que vai do rio até uma linha imaginária que fosse do Palácio de São Bento à Graça, passando pelo Rossio (no Porto podemos imaginar um espaço semelhante: o que estaria entre o rio e uma linha que unisse o Hospital de Santo António ao liceu Alexandre Herculano).

Shlomo Venezia tinha como tarefa cortar os cabelos às mulheres, que depois seriam utilizados para fabricar isolantes para os submarinos. Já o seu irmão tinha de arrancar os dentes de ouro da boca das vítimas e devia fazê-lo depressa, pois era muito mais difícil quando os cadáveres arrefeciam e endureciam.

Mas não é apenas o espaço imenso que perturba. É mais o vazio atual que nos deixa imaginar o tempo em que aqui se podiam exterminar, matando e fazendo desaparecer os restos, até 20 mil seres humanos por dia. De forma eficiente, rotineira e implacável.
Conhecemos os números – ali morreram perto de um milhão judeus, mais algumas dezenas de milhares de ciganos, de prisioneiros de guerra soviéticos, de resistentes polacos e de homossexuais.
          Observador
     José Manuel Fernandes

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