1ª Tertúlia Literária
"As voltas dos Livros"
Aquilino Ribeiro afirmou: " (...) Cada homem é um mundo. Por isso mesmo, cada homem que se sabe contar é um livro nunca igual ao outro livro".
No final da tarde do dia 18 de novembro de 2015, valeu a pena, sem dúvida, termo-nos deixado levar pelo encantamento das palavras da nossa estimada colega, Ana Paula Silva.
Na sua apresentação de "Siddhartha" de Herman Hesse, a subtileza das suas palavras, emitidas com alma, nutriram o nosso espírito, tendo gerado uma tranquila troca de ideias, num ambiente aconchegante, temperado pela chama ténue das velas e os exóticos aromas orientais.
Reportagem fotográfica da professora Manuela Silva
Como as voltas à "Siddharta" de Hermann Hesse não terminaram, aguardamos que o valioso contributo da nossa saudosa colega, Carolina Guerra, inflame a discussão, para além dos olhos...
Contributo da professora Carolina Guerra:
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Comentário da Ana Paula Silva:
Obrigada Carolina pelo teu excelente contributo.
ResponderEliminarÀ tua interessante pergunta Carolina: “Não será isto a prova de uma procura que não acaba, tal como a de Siddartha?” , coloco eu outra: Sinto que o Homem busca, procura, tenta encontrar o que sente que ainda não possui. Mas acontece isso com todo o homem? Serão os que buscam porventura mais felizes porque não se contentam ou serão mais infelizes porque tentam encontrar o que não é passível de ser encontrado? Serão os que não necessitam dessa busca os mais completos porque já encontraram ou pensaram que encontraram? Que preço se paga pela busca, pela procura? E que tranquilidade se perde pelo caminho? Mas é essa busca, essa procura, esse caminho escolhido voluntariamente por cada um? Ou a ele somos impelidos por algo que não sabemos explicar?
Paula,
EliminarTalvez o meu contributo e os "textos" que eu aqui deixo representem a minha própria
procura. O desapontamento que Siddartha me trouxe deve-se também à falta de respostas.
Ele encontrou a paz e não ensinou ninguém. Se calhar porque como o "meu" Almada
Negreiros diz: "Imaginava eu que havia tratados da vida das pessoas, como há tratados da
vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecidos com o tratamento que há para
os animais domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há!
Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para a febre. Um livro com
tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um
livro que dissesse tudo, claro e depressa,..." "Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma
para copiar e nenhuma era para copiar"(1).
Se calhar vamos continuar a procurar uma resposta que está em nós. E aqui vai mais uma
reflexão alheia, de Vinícius de Moraes:
Velha História
Depois de atravessar muitos caminhos
Um homem chegou a uma estrada clara e extensa
Cheia de calma e luz.
O homem caminhou pela estrada afora
Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz forte do sol
Com o peito de cantos e a boca farta de risos.
O homem caminhou dias e dias pela estrada longa
Que se perdia na planície uniforme.
Caminhou dias e dias...
Os últimos pássaros voaram
Só o sol ficava
O sol forte que lhe queimava a fronte pálida.
Depois de muito tempo ele se lembrou de procurar uma fonte
Mas o sol tinha secado todas as fontes.
Ele perscrutou o horizonte
E viu que a estrada ia além, muito além de todas as coisas.
Ele perscrutou o céu
E não viu nenhuma nuvem.
E o homem se lembrou dos outros caminhos
Eram difíceis, mas a água cantava em todas as fontes
Eram íngremes, mas as flores embalsamavam o ar puro
Os pés sangravam na pedra, mas a árvore amiga velava o sono.
Lá havia tempestade e havia bonança.
Havia sombra e havia luz.
O homem olhou por um momento a estrada clara e deserta
Olhou longamente para dentro de si
E voltou."
Apesar de saber que não há respostas feitas fica-me ainda a esperança de conseguirmos dar
às nossas crianças a(s) receita(s) para fazerem a sua própria procura com inteligência e
sensibilidade para que não se percam na ausência de valores.
Apenas para acrescentar a nota
ResponderEliminar(1) "O Livro" in NEGREIROS, José de Almada,(1971), Poesia, editorial Estampa, Lisboa