SUGESTÕES DE LIVROS PARA ESTE MÊS DE NATAL
No mês do Natal, o livro é o mais
belo presente. As sugestões de Luís Almeida D'Eça incluem crónica, contos, romance e a
belíssima poesia de Maria Teresa Horta. Margaret Atwood reinventa a Odisseia no feminino, Modiano
regressa a Paris, a sua geografia literária de eleição, e João Carlos Alvim
aventura-se pelos caminhos do romance histórico. Para os adolescentes, o eterno
Jules Verne. Para todos, uma excelente obra de divulgação da vida e obra de
José Saramago, por ocasião dos 20 anos da atribuição do Prémio Nobel de Literatura.
Maria
Teresa Horta
Estranhezas
“De súbito Dürer… / a
asa que pintaste / há séculos / ganha voo/ com a sua dúctil / e indócil
beleza / Com a sua estranheza”. O signo da asa, que a capa de Dürer bem afirma,
paira sobre o mais recente livro de poemas de Maria Teresa Horta. Sem iludir
(como nos demais livros não-temáticos) uma unidade essencial, «Estranhezas»
desdobra-se por sete capítulos que não encobrem uma continuidade quase
vital: No Espelho, Paixão, Da Beleza, Alteridades, Tumulto, Ferocidades e À Beira do Abismo.
É que se o eu horteano está bem patente nos primeiro, segundo e último
capítulos, os outros e outras de Alteridades, Tumulto e Ferocidades são magníficos desenhos traçados pela
mesma mão que escreveu os primeiros. Lê-se este livro como quem “chora de
beleza” ao subir as escadarias do Louvre e vê de, “asas abertas”, “um belíssimo
anjo degolado na sua veste feminina”: a Vitória de Samotrácia.
Dom
Quixote
Maria
Filomena Mónica
Nunca
Dancei num Coreto
Há um momento na vida
em que a generalidade das pessoas começa a pensar em coisas que ficarão
definitivamente por fazer. Esta espécie de nostalgia do não acontecido é
própria de um estado melancólico que se deseja efémero. Efémero é também o
adjetivo que Maria Filomena Mónica (MFM) usa para caracterizar a escrita para
jornais. Qual o interesse de ler hoje uma crónica do dia anterior, da semana
passada ou com alguns anos? A resposta não está no assunto, que poderá ter
ficado desatualizado, mas na sobriedade da escrita e na acutilância do pensamento.
Nenhum texto, por curto que seja, será então passageiro. É isto que encontramos
nas crónicas de MFM, que nos últimos sete anos têm vindo a ser publicadas
quinzenalmente no Expresso. Sejam os assuntos mundanos ou privados, a qualidade
é a mesma. Nunca um excesso de sentimentalidade manchará uma memória pessoal,
assim como nenhuma observação de carácter sociológico dispensa a objectividade
dos números que reforçam a argumentação da autora. RG
Relógio
D’Água
Margaret
Atwood
A
Odisseia de Penélope
As recentes
adaptações televisivas de The Handmaid’s Tale e Alias Grace tornaram
a escritora Margaret Atwood numa celebridade. Porém, a autora, eterna nomeada
ao Nobel de Literatura, era já um nome de culto entre os leitores mais
atentos. The Handmaid’s Tale, originalmente publicado em 1985,
vendeu milhões de exemplares, deu origem a um filme (com argumento de
Harold Pinter e realização de Volker Schlöndorff), a uma ópera de Poul Ruders e
afirmou-se como alegoria política digna de Admirável Mundo Novo ou
de 1984. Lamentavelmente, esta notoriedade não se estende
à sua notável obra poética, remetida à semiobscuridade pela fama de romancista.
Penélope é uma figura de mulher imortalizada pelas suas virtudes passivas:
durante 20 anos esperou fiel e pacientemente o regresso a casa do marido,
Ulisses. Protagonista desta versão da “odisseia no feminino”, revela-se uma
criatura inteligente e pragmática, que com profundo espirito crítico desfaz
mitos e repõe a sua visão da realidade, com a mesma habilidade com que tece e
destece os fios do seu tear.
Elsinore
Patrick
Modiano
Lembranças
Adormecidas
“Paris, para mim,
está juncada de fantasmas, tão numerosos com as estações de metro e todos os
seus pontos luminosos, quando carregávamos nos botões do painel de
correspondências”. No seu primeiro romance pós-Nobel, Modiano escreve sobre a
memória de seis mulheres encontradas e perdidas pelo narrador nos anos
sessenta, Uma personagem refere-se a uma dessas silhuetas femininas como
“alguém que caminha ao lado da sua vida”. Há, de facto, algo de espectral neste
conjunto de mulheres que surgem não se sabe de onde e desaparecem sem deixar
rasto. O protagonismo pertence, porém, como vem sendo habitual na obra do
autor, à cidade de Paris, mais concretamente às suas ruas onde estes encontros
e desencontros têm lugar. Existe qualquer coisa de livro sonhado neste belíssimo
romance, sublinhado desde logo pelo título: Souvenirs Dormants (Lembranças Adormecidas):
um conjunto de recordações que se esfumam “ como as palavras que acabamos de
ouvir num sonho e nos fogem ao despertar.”
Sextante
João
Carlos Alvim
A Confraria dos Espectros
João Carlos Alvim foi
co-fundador da Assírio & Alvim, em 1972, e director editorial das
Publicações Dom Quixote e da Bertrand. Mais tarde co-fundou a Bizâncio e foi
consultor editorial para a Livros do Brasil, a Ulisseia e a Campo das Letras.
Traduziu alguns autores que muito aprecia (Isaac Bashevis Singer, Marguerite
Duras, Éric Vuillard). O seu primeiro romance, A Confraria dos Espectros, é
uma história romântica e dramática, cheia de melancolia e de ação, sobre a
imparável ascensão da Europa liberal e as ilusões dos que tentaram opor-se-lhe.
A narrativa inicia-se em Lisboa, em Julho de 1833 e estende-se até Nova Iorque,
no ano de 1911. Qual a influência da Confraria dos Espectros no reordenamento
político da Europa? Que intrigas se produziram, nesses anos do século XIX,
entre os gabinetes dourados da realeza e da diplomacia, as alcovas e os salões
das grandes figuras da época e a escória das ruas e do crime?
A
Esfera dos Livros
João
de Melo
As
Coisas da Alma
O volume As Coisas da Alma e Outras
histórias em Contoreúne 18 curtas narrativas. Desses contos, 15
pertencem á edição original e a duas edições datadas de 203 e 2005. Dos
restantes um é inédito e os outros dois, em versão mais elaborada, provém de
publicações de circunstância. São histórias sobre um filho que procura o pai
que nunca conheceu, um homem que quer o funeral discreto e mais humilde
possível, um marido que vive sob o domínio da mulher, uma criança que assiste á
partida da tia decidida a emigrar para o Brasil ou um professor de história
divido entre a atracção pelo corpo atlético de uma mulher e amabilidade de
outra. Retratos sensíveis da condição humana naquilo que (citando a frase de
Teixeira de Pascoaes que serve de epígrafe à presente edição) mais tem de
“imanente”: a alma. Os contos já conhecidos sofreram significativas alterações
na prosa, assim justificadas pelo autor: “Fi-lo com toda a naturalidade: julgo
pertencer ao número dos descontentes por natureza e a paixão – que nunca dão
por finda a obra começada.”
Dom Quixote
Inês
Fonseca Santos
José
Saramago, Homem-Rio
Serralheiro mecânico,
escritor, editor, crítico, tradutor e jornalista, José Saramago, prémio Nobel
de Literatura, foi múltiplo como só um escritor o sabe ser. O escritor é um
homem-rio “com tantas margens quantas as palavras que existem”. O “lugar onde
desagua, onde termina, toda a gente sabe que um escritor só morre quando
desaparece o seu último leitor”. Com magníficas ilustrações de João Maio Pinto,
de uma sugestiva linguagem pop, esta é a obra ideal para introduzir novos
leitores na vida e obra de José Saramago.
Pato
Lógico/INCM
Jules
Verne
Miguel
Strogoff
O mundo possui seis
continentes: Europa, África, Ásia, América, Austrália e Júlio Verne.” Desta
forma se referiu o escritor francês Claude Roy ao pai do romance de antecipação
científica. Jules Verne (1828/1905), senhor de um singular poder visionário, descreveu,
com um misto de realidade e fantasia, a conquista da terra, dos mares e do céu.
Múltiplas gerações de leitores cresceram na companhia das suas obras. Apesar
dos avanços da ciência e da tecnologia, os seus livros permanecem como um dos
mais perfeitos exemplos da celebração do espírito de aventura humano. Miguel
Strogoff, clássico do romance de aventuras e impressivo retrato da Rússia,
nação dividida por várias culturas e realidades, que o autor nunca visitou, mas
que conhecia através de relatos de colegas da Sociedade de Geografia. O
protagonista, correio secreto do Czar, é enviado numa perigosa missão secreta
para evitar a derrocada do império.
E-Primatur
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