quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Escrever é procurar corresponder...


ainda que não se saiba a quê ou se esse quê existe

A nossa liberdade nasce de uma incerta radical

e a sua metamorfose é a invenção de um espaço

de correspondências que visam uma esfera inviolável



Nunca sabemos mas precisamos de desenhar a forma de um caminho

que vai até ao extremo do silêncio e reflui para o espaço

das nossas vidas sonâmbulas e incertas

e que nos abre o peito para uma respiração de estrelas vivas

embora continuemos a deambular no deserto



O silêncio do tempo diz-nos que é a única realidade

e que ela nos conduz à degradação e à morte

mas a ingénua energia de desejo impele-nos cada dia

a procurar a tranquila liberdade de um equilíbrio novo

no espaço da palavra dentro do incessante círculo do tempo



António Ramos Rosa

Génese seguido de Constelações

Lisboa, Roma Editora, 2005                             



 

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