quarta-feira, 8 de abril de 2015

A propósito de Camões, considerado o maior poeta da língua portuguesa

Camões e a tença

Irás ao Paço. Irás pedir que a tença

Seja paga na data combinada

Este país te mata lentamente

País que tu chamaste e não responde

País que tu nomeias e não nasce


Em tua perdição se conjuraram

Calúnias desamor inveja ardente

E sempre os inimigos sobejaram

A quem ousou seu ser inteiramente


E aqueles que invocaste não te viram

Porque estavam curvados e dobrados

Pela paciência cuja mão de cinza

Tinha apagado os olhos no seu rosto


Irás ao Paço irás pacientemente

Pois não te pedem canto mas paciência


Este país que te mata lentamente.





Sophia de Mello Breyner Andresen  In Obra Poética

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