Lisboa Digo: «Lisboa» Quando atravesso — vinda do sul — o rio E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna Em seu longo luzir de azul e rio Em seu corpo amontoado de colinas — Vejo-a melhor porque a digo Tudo se mostra melhor porque digo Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência Porque digo Lisboa com seu nome de ser e de não-ser Com seus meandros de espanto insónia e lata E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro Seu conivente sorrir de intriga e máscara Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata Lisboa oscilando como uma grande barca Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência Digo o nome da cidade — Digo para ver 1977In Navegações, 1983 |
sábado, 10 de outubro de 2015
"Lisboa" de Sophia de Mello Breyner Andresen
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