CIDADES
Assim, ternura de Lisboa no meio do terror:
O mundo está nublado, mas não aqui,
onde se adensa a tristeza do mundo.
Deixou tanta luz o anjo que voa
para a suspensão da infância
na toca de um canário adormecido?
A língua vive na boca
calcinada pela curva do sol.
Junto do rio ou tejo que fala com a cidade
algo existe de distante implacável
em acontecer o que não acontece.
Como se ata o que sou para mim
com o que não sou para mim?
Aqui me cansa a morte, que nada tem lá dentro,
e pelo meu quarto passeia-se um que usa o meu passado.
Ah, transparência embalada pela
pegada do animal
que procura o encontrado. Dizeres
que velam o que mostram. Lenta
felicidade de ruas contagiadas
pelo que não se espera.
Poema de Juan Gelman traduzido por Pedro Tamen
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