sexta-feira, 22 de julho de 2016

Mia Couto

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“Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.”

- Mia Couto, em "Antes de Nascer o Mundo". São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009.

 

***

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?
(Versos do menino que fazia versos)


- Mia Couto, do conto "O menino que escrevia versos".  em "O fio das missangas". Lisboa: Editorial Caminho, 2003.

 

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