Gulbenkian dedica
exposição a Eça de Queirós e mostra espólio pessoal
Uma exposição comemorativa dos
130 anos de publicação do romance 'Os Maias', que mostra pela primeira vez
peças do espólio pessoal de Eça de Queirós, vai estar patente ao público na
Gulbenkian, em Lisboa, a partir de dia 30.
Os Maias serão o eixo
central da exposição 'Tudo o que tenho no saco. Eça e Os Maias', mas à sua
volta vão gravitar outras obras do autor, entre crónicas, romances, contos e
muitas cartas.
Serão também mostradas
fotografias, pinturas, caricaturas, gravura, música da época, excertos de
filmes e objetos do espólio pessoal do escritor, guardados na Casa de Tormes
(propriedade da Fundação Eça de Queiroz), nunca antes mostrados em Lisboa.
Entre as peças pessoais de Eça de
Queirós, que poderão agora ser vistas pelo público, contam-se a secretária
pessoal do escritor, o tinteiro em latão, a palmatória de iluminação, a estante
giratória e a cabaia chinesa (vestuário de mangas largas usado na China), que
lhe foi oferecida pelo Conde de Arnoso.
A mostra conta ainda com obras de
Paula Rego, Júlio Pomar, João Abel Manta, Raphael Bordallo Pinheiro, Raquel
Roque Gameiro, Bernardo Marques, Manoel de Oliveira, João Botelho, entre
outras, alusivas ao autor e à sua obra.
Organizada em colaboração com a
Fundação Eça de Queiroz, a exposição está dividida em sete núcleos, o primeiro
dos quais - '1888 - A Vasta máquina!' - diz respeito ao romance 'Os Maias',
essa "vaste machine" (vasta máquina) "com proporções
enfadonhamente monumentais de pintura a fresco, toda trabalhada em tons pardos,
pomposa e vã", como a descreveu Eça de Queirós.
O romance ficou pronto em 1881,
mas só em 1888 foi publicado com o nome 'Os Maias. Episódios da Vida
Romântica', tendo tido má aceitação por parte da crítica e do público, que deu
pouca saída aos cinco mil exemplares postos à venda.
Só no século XX, já depois da
morte do autor, é que 'Os Maias' foram reconhecidos como a obra-prima de Eça de
Queirós, e como um clássico da literatura em língua portuguesa.
O segundo núcleo percorre a vida
e as aprendizagens do escritor antes de 'Os Maias', desde a passagem pela
universidade de Coimbra, até à viagem de turista pelo Oriente, passando pelas
suas estadias em Lisboa - fundamentais na sua formação literária e ideológica
-, pela sua experiência jornalística em Évora, ou como funcionário em Leiria.
'Guerra ao romantismo' é o mote
para o terceiro núcleo, no qual se expõe como o autor, educado no culto do
romantismo, se converte ao realismo, dando-lhe corpo, em 'Os Maias', através da
personagem de Alencar, poeta de valores românticos, que se torna alvo de toda a
ironia de Eça.
No quarto núcleo ficam expostas
algumas das pinturas que Paula Rego fez para uma série dedicada a 'O Crime do
Padre Amaro', e suscita-se uma reflexão sobre Eça de Queirós - autor do romance
homónimo que inspirou as pinturas -, que reclamava o caráter moralizador do
realismo e cujos livros acabaram acusados de imorais.
'Olhares cruzados' é o quinto
núcleo da exposição, e explora a forma como Eça fugia da objetividade que o
realismo procura para expor vários olhares sobre a mesma realidade: ironia,
sonho, caricatura e excesso, personificado por João da Ega, identificado como
um alter-ego do próprio escritor.
A busca permanente do autor pela
perfeição na arte, que o levou a proclamar "a arte é tudo - tudo o resto é
nada", e que se espelha também nas 'toilettes dândi' de muitas das suas
personagens, é mote para o penúltimo núcleo da mostra.
O último espaço percorre a
geografia biográfica e ficcional de Eça de Queirós, da América do Norte ao
Próximo Oriente, do Douro ao Alentejo, deixando, contudo, claro que Portugal
era o lugar que estava no seu coração e no centro das suas preocupações.
A exposição ganhou nome a partir
de uma carta que Eça de Queirós escreveu ao seu amigo Ramalho Ortigão, quando o
romance 'Os Maias' estava praticamente terminado, na qual contava como o
decidira fazer: "não só um 'romance', mas um romance em que pusesse tudo o
que tenho no saco".
Pegando no mote, 130 anos depois
da publicação desse romance, a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu mostrar
"tudo o que Eça trazia no saco", numa exposição que estará patente
até 18 de fevereiro de 2019, e que contará ainda com uma vasta programação
paralela, que vai do cinema a conversas e a jantares queirosianos, entre outras
iniciativas.
Sem comentários:
Enviar um comentário